sábado, 17 de janeiro de 2009

A alquimia do sabor

Que atire o primeiro cubo de knor quem nunca errou a mão no tempero antes. Sais, pimentas, ervas, a harmonia desse conjunto não é para o dedo de qualquer um. Mas nesses dias eu ando meio chateada porque passei pela quarta experiência de pecar pelo excesso.

Quem me conhece, deve estar achando esse texto estranho, pois conhece a fama dos meus dotes culinários, mas estou passando por um período de dona de casa, e tive que enfim encarar essa missão. E já que é pra por a mão na massa, não posso me conformar com nada menos do que o melhor!

Cozinhar no dia-a-dia é relativamente fácil, basta um treinozinho, tempo e atenção. Mas aprendi que cozinhar bem, daquele jeito que deixa todo mundo com água na boca, tecendo mil elogios - e principalmente quando se tem um mestre cuca em casa para agradar – não é definitivamente pra qualquer um.

Tem gente que compara o ato de cozinhar a uma arte. Mas eu gosto particularmente da teoria de que cozinhar é quase uma alquimia. Quando se cozinha, os elementos estão em nossas mãos e fazemos o supremo feitiço da transmutação da matéria. Meio Harry Potter, né? Mas siga o raciocínio: transforma-se trigo em pão, o vinho em vinagre, o leite em queijo, e isso é só o mais trivial. São tantas as possibilidades de combinações que é preciso mesmo dominar a mágica dos ingredientes. Me pergunto se o chapéu de chef não foi inspirado no chapéu de um bruxo?

A busca da pedra filosofal é a busca do prato perfeito. O preparo do alimento vira quase um ritual, onde se busca o equilíbrio sutil dos elementos. Transformar o aroma num perfume único, o sabor em múltiplas sensações, e a textura em pura sensualidade. Quem cozinha como um alquimista sabe fazer deleitar o paladar da alma.

Como boa aprendiz de feiticeira, ops! de cozinheira, cheguei a duas conclusões: a primeiro é que comida boa se faz com bom humor no espírito e com sentidos apurados do corpo. A segunda é que por enquanto eu filosofo melhor sobre comida, do que mexo com a colher de pau. Mas quem disse que transformar pedra em ouro é fácil? O essencial eu já comecei a compreender: bom cozinheiro sabe o poder de encantamento que uma receita bem elaborada é capaz.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Preces são atendidas?

É estranho fazer uma pergunta dessa, pois considero a minha vida plena de benções e realizações. Sempre me considerei uma pessoa de pensamento forte – e se a humildade me desculpar – acho até que tenho poderes magnéticos para atrair o objeto do meu desejo, seja a atenção de alguém, um favor ou uma situação.

Mas hoje me peguei procurando uma oração, uma magia, uma simpatia, e o que mais atendesse a minha súplica para conseguir um desejo em particular – que não vem ao caso agora – mas que anda assim meio lento para acontecer, para os padrões imediatitivos e ansiosos do meu ser.

Achei os salmos, e eles soaram bem aos meus ouvidos. Não sou católica de ficar lendo a Bíblia, mas tenho profundo respeito por essas escritas. Já li em algum lugar que os Salmos são declarações ritmadas, de autoria do Rei David, que expressam a verdade. Dizem que a forma mais correta de se entoar um salmo é quase cantando! Admiro aquela pessoa que é silenciosa, serena, que entra em transe na sua oração. Mas eu queria ser, nesses momentos, aquelas negras americanas de voz potente do Harlem, que oram com o corpo e com o canto. Para que minha voz saísse do mundo terreno e arrombasse as portas do reino invisível, despertando a ação e a graça. Sim, eu sou meio dramática.

Na verdade, estou um pouco confusa com essa situação de ‘pedir uma graça’. Nunca concordei muito com isso, principalmente depois que li uma passagem do livro Conversando com Deus – trilogia que eu recomendo - que o autor nos diz que “A oração correta nunca é de suplica, mas sim de gratidão. A gratidão é a afirmação mais convincente para Deus.” Mas confesso humanamente que às vezes é difícil ser grata por algo que ainda não aconteceu.

Dizem que cada um tem sua forma especial de falar com Deus, eu sempre achei que escrever era um atalho bom. Que se as palavras fossem escritas com o coração elas teriam uma vibração especial, tão sutil como o canto. Então resolvi rezar escrevendo este texto, numa forma muito íntima de como gosto de conversar com ELE.

Vim aqui pedir fé. Mas não quero a fé como simples auto-confiança da qual já sou acostumada, aquele discurso onde afirmo, repito e me convenço de que mereço e já tenho a coisa desejada. Estou pedindo por viver uma fé verdadeira, daquela que nos arrebata, que nos tira os pensamentos desconfiados e que nos dá a plena certeza de que tudo está como deveria estar.

Dizem que Deus nos ouve sempre, mas quer a oportunidade de falar também ao nosso coração. Eu estou sempre falando, escrevendo, pensando, uma atividade mental interminável... Eu sou um blá, blá, blá ambulante. Deus, hoje eu vim mesmo pedir em prece que me ensine a te ouvir.